Uma breve jornada do paleolítico à segurança de dados
A palavra “estatística” está muito presente em nosso cotidiano. Hoje, ela é amplamente usada em diversos campos, principalmente quando falamos de algo relacionado ao governo, economia e outros assuntos que envolvam dados.
Entretanto, este conhecimento é muito mais antigo do que imaginamos, pois muitas civilizações que viveram em um período A.C. já possuíam ferramentas estatísticas rudimentares. O termo tem origem no latim “status” e, segundo José Maria Pompeu Memória, em seu livro “Breve História da Estatística, designa a coleta e apresentação de dados quantitativos de interesse de estado.
Entretanto, para tal, antes, seria necessário realizar registros numéricos. Mas, como eram registrados tais valores?
Registros apontam que, comumente, eram utilizados ossos talhados, cordas com nós, pedras e até mesmo conchas, para realizar contagens.
Uma das evidências mais antigas desta prática, foi encontrada em Dolní Věstonice, Moravia, no Leste Europeu, em 1937, e era uma peça de osso de lobo, do período paleolítico, com pequenos entalhes em seu comprimento, usados para contabilizar dados.
As formas de contagem continuaram avançando com o passar do tempo. O Egito foi uma civilização que se destacou em várias áreas do conhecimento, a matemática, entre elas. Conforme citado em nosso texto “Conjugando o verbo computar através dos séculos” , escrito por Antonio Carlos Barroso, , os egípcios já possuíam um sistema numérico muito competente.
Também há heranças semelhantes em registros históricos de populações chinesas e pré-colombianas, porém. o real interesse em transformar estas contagens em um estudo só veio a partir do renascimento, no século XIV, com uma obra de Francisco Sansovini, em 1561. Ainda neste período, a Igreja Católica Romana passou a registrar compulsoriamente os registros de casamentos, batismos e óbitos, a partir do Concílio de Trento (1545-1563).
Só então, em 1746, com a publicação dos estudos do professor alemão, Gottfried Achenwall, a estatística passou a tomar uma forma mais definida. O vocabulário estatístico proposto por ele auxiliou a organizar e sintetizar as orientações italianas dos séculos anteriores.
No quesito experimental, a Inglaterra foi pioneira em tentar extrair resultados a partir de dados coletados. A técnica denominada de Aritmética Política, do século 17, evoluiu para ser o que, hoje, chamamos de demografia. A partir deste ponto, os estudos da estatística evoluíram constantemente, até que, no século 20, passou a ser um ramo independente de pesquisas.
Um caso curioso sobre uso de estatística no passado aconteceu durante o reinado de Elizabeth I. Na época, havia suspeita sobre a existência de um plano de assassinato que tinha como alvo a própria rainha. Havia a desconfiança do envolvimento de Mary Stuart, rainha da Escócia, que já tinha sido presa na Inglaterra, acusada de participar do assassinato do próprio marido
Encarcerada, Mary Stuart trocava cartas criptografadas com um grupo de aliados, católicos, que, planejavam resgatá-la da prisão, como precaução para caso os documentos fossem interceptados e, de fato, tanto as cartas que ela enviava quanto as que recebia estavam sendo capturadas para investigação, tanto que Thomas Phelippes foi um dos contratados para decifrar as cartas. Com base em seus conhecimentos em estatística , ele teve a ideia de usar análise de frequências para decriptografar as cartas.
A hipótese que ele usou é que cada letra do alfabeto possui uma frequência natural de inclusão em um texto, dado os padrões de uma língua. Assim se as frequências das letras e dos símbolos nas cartas da Mary fossem confrontadas com as frequências de uso das letras no inglês, ficariam evidentes algumas correspondências, a digitalização da tabela com os símbolos usados por Mary, e assim, as cartas foram decifradas. Todas essas evidências podem ser encontradas no Arquivo Nacional do Reino Unido e o site Crypto Corner possui a descrição completa do processo.
A estatística e a criptografia, assim, permaneceram evoluindo juntamente, entretanto por caminhos nem sempre semelhantes. Enquanto a estatística se tornou muito mais ampla, atingindo diversas esferas, a criptografia, hoje em dia, está muito mais presente no campo da TI.
Muitos softwares em especial os de conversas, músicas, fotos e vídeos possuem a opção de criptografia de seus conteúdos. A criptografia moderna é cada vez mais necessária pelo volume de dados que conseguimos lidar. Ela funciona assim: os sistemas de segurança normalmente baseiam-se em uma chave, conhecida apenas pelo administrador ou, gerada automaticamente pelo sistema. Este código vai “bagunçar” um pouco a mensagem original, de forma que o conteúdo não possa ser facilmente compreendido. Podemos dar um exemplo simples de criptografia com chaves pela cifra de cesar:
Vou utilizar o número 22 como minha chave e criptografar o nosso slogan “Think ahead, act today”, obtendo a frase: “pdejg wdawz wyp pkzwu”
A Cifra de Cesar, apesar de simples, pode confundir um pouco quem tenta decifrá-la. Ela consiste em contar as letras do alfabeto o número de vezes equivalente a sua chave. Então, por exemplo: “T”, contando 22 letras após ele (recomeçando o alfabeto) encontraremos o “P” e assim por diante.
Encerramos nosso texto de hoje após uma narrativa histórica sobre temas interdisciplinares e, deixamos, agora, a você, nosso leitor, a reflexão: Caminhamos um longo caminho desde os primeiros registros em ossos de animais até o big-data. Qual será o próximo passo?