Os automóveis na estrada do tempo
Não é exatamente meu, mas é do meu gosto, eu uso quando quero, é eco-friendly, é co-projetado e fabricado por chineses, mas agora sabem traduzir o gosto ocidental.
O conceito de automóvel passa pelo futuro dos conceitos de mobilidade, propriedade vs. compartilhamento e sustentabilidade das cidades.
Não é difícil esbarrarmos em comentários e artigos sobre o futuro dos automóveis. Esse tema desperta emoções e curiosidades diversas, dependendo da idade de cada um. Aqueles com mais de 60 anos, como eu, lembram-se de andarem em ruas praticamente sem carros e de como era um privilégio e um sonho de nossa juventude possuir um.
Na web, há várias informações instigantes enfocando esse mapa para o futuro sob diferentes pontos de vista. Inicio com um artigo do Mkinsey Quarterly, de outubro de 2014, que trata o assunto do ponto de vista dos fabricantes de veículos.
Caminhando à sombra da grande muralha
Em 1994, a China representava 1,9% do mercado mundial de automóveis (carros e caminhões) enquanto os EUA, a Europa e o Japão juntos respondiam por 77,4% e o restante 20,8% era compartilhado pelos outros países do mundo. Em 2014, a “trinca” (EUA+EUR+JP) respondeu por 44,3%, a China subiu para 28, 4% e o restante 21,6%. Com base nos dados do artigo, uma estimativa da taxa de crescimento indica que a cada ano são vendidos mais 0,49 milhões na “trinca”, mais 0,34 milhões no restante de mundo, contudo para China o crescimento é mais próximo de uma exponencial. Fazendo o ajuste obtemos uma taxa de crescimento de vendas entre 2,1 a 2,8 milhões/ano e a China deverá superar o tamanho do mercado conjunto da mencionada EUA+EUR+JP já em 2024.
Lembrando que para 2014 o estudo em tela apresentava dados estimados e também a incerteza associada com estimativas de taxas para casos de crescimento com aceleração com a China, resolvemos consultar o site da OICA (International Organization of Motor Vehicle Manufacturers), que possui dados anuais de 2005 a 2016. De saída, notamos que o trabalho da Mkinsey apresenta números cerca de 35% maiores que os da OICA. De qualquer modo podemos fazer comparações relativas entre a evolução dos três grupos de países. Notamos que as vendas nos EUA e Japão caíram em 2015 e 2016, ao passo que na China elas continuaram subindo e com ligeira aceleração nas taxas de crescimento. Parece, portanto, que minha conjectura deve se realizar antes do previsto.
O “capitalismo de estado” da China caracteriza-se por estabelecer políticas de estado consistentes temporalmente e que são cumpridas por meio de legislação e incentivos bastante efetivos. Portanto a China terá um papel preponderante na tendência dos automóveis do futuro.4
As questões e preocupações dos fabricantes
Há novos direcionadores políticos e regulatórios, pois os governos estão abordando o business veículos dentro de sua cadeia de valor e considerando as respectivas externalidades. Há políticas de incentivos em pelo menos 32 países para os chamados veículos elétricos (VE) e veículos híbridos plug in (VHPI). Uma descrição desses incentivos pode ser encontrada em artigo da Wikipedia.
No tocante à demanda nota-se nos jovens uma migração do desejo de possuir para a ideia de dispor de um veículo. O crescimento do conceito e plataformas de compartilhamento, bem como o repensar da mobilidade em geral, levam a uma redução na necessidade de ser proprietário de um veículo. Nesse novo cenário, o número de veículos por família deve gradualmente se reduzir, bem como o perfil de quem (pessoa física e jurídica) comprará novos veículos no modelo de compartilhamento vai mudar. Nossa expectativa é que cada vez as decisões considerando os fatores racionais predominem sobre os motivadores emocionais.
Nos fabricantes o perfil dos profissionais está mudando rapidamente para atender à crescente digitalização e futura “autonomia” de condução dos veículos.
Há uma crescente demanda regulatória e pessoal por integração entre meios de transportes, segurança ativa e comunicação digital confiável entre veículos, dando origem a um grande mercado de aplicativos para tais fins.
Os padrões impostos para economia de combustível e emissões estão cada vez mais exigentes nos países da OECD e também na China. Além dos VEs e VHPIs que mais facilmente atendem a tais demandas, como as empresas completarão seus portfólios de produtos para melhor suprir seus mercados.
Há um custo regulatório crescente a ser distribuído na cadeia de valor e os fabricantes, nos países mais desenvolvidos, tendam engajar a opinião pública para garantir “justiça” nessa partição entre os players.
No próximo artigo vamos examinar alguns roadmaps que procuram posicionar no tempo como ocorrerão as mudanças dos automóveis.
Antonio C. Barroso